quarta-feira, 22 de maio de 2019

Príncipe Ribamar da Beira Fresca - o mito

Rosemberg Cariry Cineasta e escritor (Foto: Evilázio Bezerra)

Andava sempre pelas ruas do Juazeiro de terno surrado, com um guarda-chuva, mesmo no mais severo verão. Deixava a roupa de gala, com botões doirados e galões, para os grandes eventos cívicos.

Jamais largava a sua pasta, onde guardava os seus projetos mais urgentes, sempre em benefício do bem comum. Nas grandes secas, imaginou navios trazendo mantimentos, vindos pelo leito alargado do rio Jaguaribe. Sonhou com escolas reais para as crianças pobres e com abrigos para todos os velhos do Reino, que, além de gordas pensões, teriam a distribuição farta de pão e de cajuína. Sonhou com moinhos de ventos e combateu dragões imaginários.

Certa vez, li um artigo de José Wilker onde ele contava um fato curioso. Alguém certo dia apresentou ao príncipe Ribamar uma foto da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e disse tratar-se de uma princesa italiana, à procura de um príncipe para se casar; que ela por ele se apaixonara e queria visitá-lo em Juazeiro. O príncipe Ribamar, por muitos anos, andou com aquele retrato em sua pasta, mas estranhou a demora de tempo, sem que a amada aparecesse. Alguém lhe disse que ela não vinha porque em Juazeiro não tinha aeroporto. Príncipe Ribamar juntou dezenas de homens que, compadecidos com o seu sofrimento amoroso, capinaram um terreno largo, para fazer um campo de aviação, exatamente onde hoje se encontra o aeroporto regional. José Wilker fechava seu relato pedindo que o aeroporto se chamasse "Príncipe Ribamar da Beira Fresca", numa justa reivindicação.

Pois bem, houve um tempo em que o Brasil tinha um mínimo de saúde mental e o príncipe Ribamar da Beira Fresca reinava generoso e justo. Ele não chegou a ser conduzido de modo formal ao Palácio do Planalto pelos votos diretos de seus súditos. Convenhamos, esta seria uma atitude bem mais sábia do que eleger loucos odientos e narcísicos, marcados pelo signo da morte, que só falam em armas e em destruição, acabando com poesias, filosofias, universidades, pesquisas, culturas, animais, florestas, povos originários e tudo mais o que possa lhes parecer vida e liberdade. Para os loucos necrófilos, afinal, só é belo o que em ruína se transforma.
Fonte:
https://www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2019/05/21/principe-ribamar-da-beira-fresca---o-mito.html

segunda-feira, 24 de abril de 2017

O PRINCIPE RIBAMAR E MARIA DARIU - Uma história real Autor: João Bosco R. Esmeraldo

Barbalha, 1966, lugar onde passei os últimos anos de minha infância e onde também adolesci, foi palco dessa fantasia vivida por duas pessoas mui especiais.

Na vizinha Juazeiro do Norte, os cronista e locutores da Radio Progresso Geraldo Menezes e seu irmão Walter Barbosa escreveram muitas crônicas e, entre tantos temas um era sobre o Príncipe Ribamar. Era um pobre coitado, falto das faculdades mentais, que cria ser um príncipe de algum reinado de fantasia qualquer, não recordo qual. Esse Príncipe andava sempre a caráter, trajando farda com galões e apliques imitando condecorações, tipo broches no peito, na lapela e nos ombros, franjinhas em amarelo ouro. Não tenho a mínima ideia onde ele conseguia tudo aquilo.

Sempre andava com uma carta de apresentação no bolso descrevendo suas credenciais de príncipe por onde quer que fosse. Certa vez, foi gratuitamente espancado por 'filhinhos do papai' e, por pouco, não foi a óbito. Ficou quase cego. Não me recordo do verdadeiro nome do Príncipe Ribamar, mas ainda posso ver mentalmente suas feições e seu porte físico etc. Como ele levava a sério aquela fantasia! Era o seu mundo verdadeiro, apesar de pura virtualidade.

Maria Dariu era uma pobre viúva que morava em Barbalha. Coitada. Era esquálida, esquelética de fazer dó! Caolha, desdentada com apenas dois dentes superiores (um incisivo e seu vizinho, o canino, amarelo amarronzado pela piorreia). Nutria a ilusão de que era uma espécie de Miss da Região. Dizia-se noiva do Príncipe Ribamar.

Don Nadie era um jovem bem afeiçoado, muito inteligente. Estudava num colégio da cidade. Morava em cada de sua tia. A sala de visita, adaptada para um salão de beleza. Marsíria fora diplomada pela Niasi, num curso de verão em Salvador. Um salão bem frequentado. Maria Dariu gostava de ir à casa da cabeleireira. Era mui amiga da secretária do lar, Jura. Adorava contar suas quimeras virtualmente vividas com o seu príncipe encantado. Todos sabiam que não passava de uma mera ilusão, mas ninguém ousava desiludi-la.

Numa dessas idas à casa de D. Marsíria, Dariu encontrou Don Nadie e foi amor à primeira vista. Tratou logo de descartar o pobre príncipe desencantado. Don ficou irado, sem gostar nem um pingo daquela ridícula história. “Onde já se viu uma coisa dessas!”, Pensava indignado. E tratou logo de bolar uma saída.

Ele ainda era imberbe, bursando um tênue bigode quase invisível. Caprichou um bigode junino, costeletas e carregada sobrancelhas com o lápis de maquiagem da tia e foi falar com a Maria Dariu, se apresentando a ela como Samuel, Disse-lhe:

_ Boa noite, Senhora! Encantado com tanta beleza! Sou o Don Samuel, Duque de Servilha, Espanha.

Maria quedara-se, sem palavras. Don Nadie continuava:

_ Você é a gata mais gata que já vi.

Continuou dizendo que queria se casar com ela, pois era amor à primeira vista. Mas isso só seria perfeito se ela largasse mão do tão Don Nadie, do contrário, nada feito. E tinha mais! Deveria ser fiel a ele até depois de sua morte.

A coitadinha da Maria se apaixonou de imediato pelo Samuel e logo concordou com os termos do casório. Encontrou-se com o Samuel mais umas duas vezes. Nessa última, Ele disse-lhe que iria à Europa, à casa de seus pais para trazê-los para o casamento e que ela permanecesse fiel até que ele retornasse com os pais para o casamento.

Partindo o Samuel, Don Nadie ficou tranquilo e livre das cantadas e assédios de Dariu. Dois dias depois Dariu passa por lá e recebeu um telegrama da parte da família do Samuel. Jura o leu:

_ "SRA DARIU PT LAMENTAMOS INFORMAR QUEDA DO AVIAO QUE TRANSPORTAVA NOSSO SAMUEL. TODOS CARBONIZADOS PT PERDA IRREPARÁVEL".

Maria Dariu passou a vestir preto a partir desse dia por causa da pretensa morte do Samuel e nunca mais azucrinou a paciência do garoto Don Nadie.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

As profecias do Príncipe Ribamar - Daniel Walker

Quem conheceu o Príncipe Ribamar da Beira-fresca, em Juazeiro do Norte, sabe que ele tinha quatro grandes empreendimentos, tidos por todos como sendo coisas fantasiosas: 
1) Fábrica de desentortar banana; 
2) Fábrica de fumaça; 
3) Mina de espermatozoides e 
4) Cavalaria marítima. 
Ninguém o levava a sério, e  ele morreu com muita gente acreditando tratar-se de mais um dos loucos da cidade. Mas isso pode não ser totalmente verdade, e talvez ele não tenha sido tão louco como se pensava. 
Explico. Na festa do aniversário de Padre Cícero, dia 24 passado, me encontrei no Memorial com minha amiga Rosângela Tenório e ela me esclareceu que a gente deveria dar uma nova conotação aos projetos mirabolantes do Príncipe Ribamar, pois ela achava que ele na verdade estava era fazendo profecias. E argumentou: a fábrica de desentortar banana seria  um novo tipo de banana hoje produzida, de forma reta (portanto desentortada), fruto de melhoramento genético. A fábrica de fumaça   poderia ser o gelo seco, hoje tão em uso para fazer fumaça nos shows. 
Ela até agora só havia decifrado dois dos projetos do Príncipe. Eu vi sentido na coisa, e depois de raciocinar  terminei suspeitando que a tal mina de espermatozoides,  seria hoje o banco de esperma que existe nos laboratórios de inseminação artificial. E  a cavalaria marítima bem que poderia ser os jet skys que atualmente invadem os mares e açudes do mundo todo. 
Então, se o meu raciocínio e o de Rosângela estiverem certos, o nosso saudoso Príncipe Ribamar era mais profeta do que maluco, pois seus projetos tidos ontem como coisa de doido, hoje poderiam ser explicados pela ciência como sendo profecias disfarçadas. 
E viva o Príncipe! O Nostradamus de Juazeiro.

quarta-feira, 29 de março de 2017

A ingênua monarquia do Príncipe Ribamar - Por Francisco Carlos Pontes

   Aqui na terra, decerto ele não construiu castelos. No entanto, a sua cortesia principesca alegrava a muitos pelo centro da cidade de Juazeiro do Norte. Não raro, ele adentrava numa loja, lanchonete ou mesmo em qualquer estabelecimento comercial e de repente abria sua pasta contendo projetos arquitetônicos geniais, no qual a sua imaginação não se rendia a viagens ilimitadas.
   Face a sua genialidade de ideias, muitas vezes era motivo de gracejo para uns, ironias para outros. E ele seguia adiante com o seu andar e traje elegante e divagando solenemente com as suas teorias, explicando detalhadamente os seus planos a quem interessasse.
   Figura autêntica, daquelas que carimba a nossa mente. Aquela sua ingenuidade poética fica eternizada no coração daqueles que o conheceram.
   Como leitor e admirador deste blog, dedico essas modestas linhas ao nosso monarca, que certamente está num bom lugar. A bênção Príncipe Ribamar da Beira Fresca! 
Francisco Carlos Pontes-Fortaleza-Ceará

domingo, 8 de janeiro de 2017

Príncipe Ribamar - Por João Caboclo

   Durante 50 anos, viveu nesta cidade de Juazeiro do Norte, um moço solteirão que se intitulava de "Príncipe Ribamar". Se dizia filho de nação estrangeira, sendo possuidor de todos os minérios do mundo. Figura bastante popular entre a população: cor morena, estatura elevada, físico esguio. Nos dias de festas, Dia do Município, 7 de Setembro, trajava vestes reais: chapéu de penacho, sapatos com emblemas, muitas medalhas em metais luminosos lhe ornavam o peito, casaca de botões dourados, espada e outros aparatos que lhe davam aparência real. Usava óculos escuros e andava de forma imponente. Costumava conversar com pessoas eminentes, autoridades e frequentava diariamente as agências bancárias  da cidade.
   Pelas suas qualidades de homem pacato e respeitador, todos lhe davam atenção. Era um excelente marceneiro: foi ele quem fez os cruzamentos e tesouras de madeira para a construção do Santuário São Francisco, cines Eldorado e Capitólio, caramanchões e outras obras em madeira. Andava sempre com uma maleta feita de madeira e fórmica, contendo na mesma, cheques e documentos (desvalorizados), nos quais se viam vistos e carimbos comerciais, assinaturas de doutores, autori-dades, advogados e homens de boa compreensão, que o faziam para satisfazer e consolar os inventos daquele inofensivo homem de mente fraca e fixa. Foi um louco que jamais ofendeu física ou moralmente a quem quer que seja. Conservava o riso da inocência nas suas feições, acreditando em tudo o que lhe diziam. Com a idade já bem avançada dizia não ter casado ainda por não ter encontrado a princesa "Gioconda". Ganhava muito pouco, mal dando para sustentar a si mesmo. Mo-rava com sua mãe e uma irmã, que logo vieram a falecer enfraquecidas pela fome.
   Suas ideias foram sempre de uma luminosidade extraordinária, não deixando de haver aquelas de grande fantasia. Em 1950, criou ele a ideia de fazer uma fábrica de fumaça, para matar insetos e alguns viventes que estavam atormentando os macacos de sua fazenda, dos quais seria tirado o couro para o fabrico de cédulas de 5 a 10 mil cruzeiros, de um novo padrão monetário. Contudo até parece que o mundo aderiu a esta ideia, pois a poluição causada pelos disparos atômicos, chaminés de fábricas e óleo, vinha matando peixes e aves. Em 1960, começou a cortar as cercas de arame que serviam para isolar o antigo campo de aviação de Juazeiro do Norte, dizendo ser para a construção de um grande prédio e ao seu lado um Quartel General para o Exército.  Idealizou a construção do Banco Real, no triângulo que separa as três cidades: Crato, Juazeiro, Barbalha. Em 1957, subiu ele a serra do Horto e a demarcou toda, dizendo ser o local apropriado para a iluminação total de Juazeiro. Idealizou também, fazer funcionar um bonde elétrico, partindo de Juazeiro para o Horto e vice-versa, chegando mesmo a roçar parte de mato por onde ele queria que passasse o bonde. Em 1964, o "Príncipe Ribamar" já se preocupava com o tratado de paz mundial. 
   Sempre dei o melhor de minha atenção aos loucos. Gostava muito de conversar com o "Príncipe Ribamar", falar de suas aventuras, do progresso e da paz. Já nos últimos dias de sua vida, esteve ele em minha casa e conversamos bastante. Perguntei-­lhe qual o estado de saúde, no que respondeu sentir muita dor de cabeça, devido suas preocupações com o tratado de paz mundial. Perguntei qual seria seus mais recentes projetos como Governador Imperial. Respondeu-me ser a construção de dois grandes hospitais, um destinado aos tuberculosos e outro para tratar dos loucos. - Qual o primeiro a ser construído? - Será o sanatório na serra do Horto, para isto já fiz pedido de 200 tratores, que irão aplainar a serra no seu topo. Este hospital ficará localizado ao lado da estátua do Padre Cicero, local por mim escolhido. Os tratores quebrarão as pedras que servirão para a construção de um prédio de 200 metros de comprimento e 100 de largura. O Prédio terá dois andares e suas jane-las principais voltadas para Juazeiro, bem iluminado para ser visto de longe, confirmando a cidade alta, com a construção de casas de verão ao redor. 
   Perguntei quando seria inaugurada aquela obra e ele me respondeu que seria em 1985. Abriu sua maletinha e mostrou-me a planta do pré-dio, onde os doentes se restabeleceriam muito rapidamente devido o clima serrano.
ENCONTRO COM A MORTE
   Era um dia da Quaresma de 1978, quando os rádios anunciaram a morte do "Príncipe Ribamar". O prefeito da cidade, Dr. Ailton Gomes, mandou que o enterro fosse providenciado com todas as despesas pa-gas pela municipalidade. Tinha tombado sem vida aquele pobre ho-mem, dono de tanta riqueza imaginária. No momento exato em que foi fazer seu cafezinho como era acostumado, tombou com a marmita na mão. Seu corpo foi visitado por inúmeras pessoas.
   - Tua alma, Príncipe Ribamar, seguiu para um mundo melhor... Para Deus. Tuas ideias foram luminosas, de uma maneira aparente teus dese-jos foram realidade!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A sua alteza real, o príncipe Ribamar - por Francisco Neri Filho

É vítima de um sadismo imputável
Que o levou até a alienação
Esse homem de destino tão estável
A pretender-se herdeiro da Nação
Trouxeram-lhe a princesa simulada
A quem apelidaram de Gioconda
De repente, ela fez-se declarada
E lhe deixou uma paixão profunda
Fazem-lhe mofa, ele não se incomoda
É feliz com a megalomania
Mas aqueles que lhe infligiram essa sorte
São normais: sofrem de melancolia...

Nota: esses versos, que intitulei "A sua alteza real, o príncipe Riba-mar", têm mais de 50 anos e são inéditos.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Joaquim Gomes Menezes, O Príncipe Ribamar - Por Senhorzinho Ribeiro

Joaquim Gomes Menezes era seu nome batismal. Nasceu na Rua do Horto, em Juazeiro do Norte. Solteirão, vivia em companhia de sua mãe. Trabalhava na arte de carpinteiro e tratava-se de um excelente profissional.
Com a morte de sua genitora, Joaquim ficou desorientado e posteriormente enlouqueceu. Ainda sadio trabalhou no madeiramento de várias residências, casas comerciais, igrejas, inclusive foi o responsável pelo madeiramento da Igreja Matriz da cidade de Ipaumirim - CE.
Com a doença mental, vieram o sofrimento e o desprezo por tudo que possuía, inclusive pela profissão. Tornou-se uma das figuras mais conhecidas da cidade e mais uma vítima da sociedade que não compreende os deficientes mentais.
Em sua psicose tornou-se o "Príncipe Ribamar da Beira Fresca", pretendente a se casar com Gioconda, herdeira do reino da "Eslobóvia".
Seus delírios o levavam a se sentir proprietário dos maiores patrimônios, como a Torre Eifel, as Pirâmides do Egito e a Estátua da Liberdade. Em sua imaginação criava os mais absurdos projetos como fábrica de fumaça, transposição das águas do mar para Juazeiro e se considerava Comandante Geral da Cavalaria Marinha.
Julgava-se dono da maior fortuna do mundo em moedas não existentes. Andava com vários cheques de papelão, não padronizados, com cifrões e zeros inacabáveis. Estes cheques eram elaborados por algum gozador, que estimulava as ideias excêntricas de "Príncipe Ribamar", confirmando para ele que o dinheiro era enviado de outros países.
Cada vez que este fato ocorria, o "Príncipe" procurava um gerente de banco, na ilusão de receber a tão sonhada quantia, e assim realizar seus mirabolantes projetos .
Caso algum cidadão de bem, penalizado com as explorações de que era vítima, lhe aconselhasse a deixar estas ilusões, ele não aceitava e tornava-se revoltado contra aquele que tentasse lhe contradizer.
Em dias de festa, principalmente em 7 de Setembro, "Príncipe Ribamar" se trajava em suas vestes de gala. Tais vestes eram improvisadas por terceiros, geralmente gozadores que lhe ornamentavam com as mais ridículas indumentárias.
Um cobertor de frio lhe servia de capa. Sua roupa era toda branca com detalhes azuis. Nas pernas da calça, duas largas faixas vermelhas. Dois enormes galões cobriam seus ombros. Usava um chapéu azul de papelão de abas curtas e copa alta, simulando um chapéu de cozinheiro. Ao longo de sua túnica existiam várias condecorações, todas improvisadas com tampas de garrafas, medalhas de latas e fitas decorativas que nada significavam.

Assim viveu o Príncipe Ribamar, um dos "loucos" mais famosos e tradicionais desta cidade. Morreu pobre, esquecido, mergulhado em sua psicose de homem rico e mais importante do mundo. (Fonte: Juazeiro no túnel do tempo, Senhorzinho Ribeiro)

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Quem não se lembra do Príncipe Ribamar? - Por Zeca Marques

Seu nome verdadeiro era Joaquim Gomes Menezes. Era alto, de pele escura e andava sempre com uma maleta. Sua profissão era carpinteiro. Ele fazia qualquer tipo de móvel, mas sua especialidade era caramanchão, muito usado na época. Joaquim era rapaz velho, não tinha namorada, era trabalhador, educado e prestativo. Um doutor da nossa sociedade, muito brincalhão, conversando com Joaquim perguntou:
   - Joaquim, por que você ainda não se casou?
   - Eu só me caso um dia se for com uma princesa.
   Daí então todos ficaram sabendo que Joaquim não era normal. Aproveitando-se da sua inocente doidice, algumas pessoas passaram a se divertir com ele. Certo dia, aprontaram uma com ele. Escolheram uma moça bonita, de nome Dolores, a qual lhe foi apresentada como sendo a Princesa Gioconda, destinada a ser sua legítima esposa. Depois desse encontro "amoroso" a Princesa despediu-se de Joaquim, prometendo escrever-­lhe. A partir daí Joaquim Gomes Menezes passou a se chamar "Príncipe Ribamar".
    Dois amigos nossos (um deles já falecido, o Audísio Pires) aproveitando a inocência de Joaquim, começaram a escrever cartas endereçadas ao Príncipe Ribamar. As cartas eram carimbadas com a coroa real e assinadas pela Princesa Gioconda. Uma dessas cartas falava da remessa de 5 trilhões de dólares para instalação de uma Fábrica de Fumaça em Juazeiro.
    O Príncipe Ribamar ficou tão entusiasmado com essa carta, que fez a planta do prédio a ser construído, num subterrâneo na Serra do Horto, para não ser alagado quando o Rio Jordão, "Rio Salgadinho", desencantasse. O Senhor Almino Loiola Alencar, Gerente da Subagência do Banco do Brasil de Crato em Juazeiro, foi até ameaçado pelo Príncipe por não liberar a suposta verba enviada da parte da Princesa Gioconda.
    A segunda obra de grande vulto do Príncipe Ribamar, era mudar o curso do rio que passava por Barbalha, para então Barbalha ficar do lado de cá pertencendo ao município de Juazeiro.
    Mais tarde outras gozações surgiram. O nome foi aumentado para Príncipe Ribamar da Beira Fresca. Deram-lhe uma Carteira de Identidade Real, na qual constava que ele era filho do Rei Takoku na Cara com a Rainha Pé-de-boga e seu sangue era azul real lavável. Quando havia alguma solenidade cívica, como o Sete de Setembro, lá estava o Príncipe junto às autoridades do município, vestido a caráter com a sua vistosa farda de  “imperador”. Inventaram que o Príncipe ia instalar uma fábrica de fumaça. Disseram também que ele iria criar em Juazeiro a Cavalaria Marítima.
    Assim que meu filho Valter se formou em engenharia civil, o Príncipe, tomando conhecimento de que ele se encontrava em Juazeiro, foi procurá-lo em nossa casa para mostrar-lhe algumas plantas dos projetos das fábricas que deveriam ser construídas em Juazeiro. Ele queria que meu filho administrasse as "obras"
    Coitado do Príncipe, morreu e não realizou os seus sonhos. Apesar de tudo, o Príncipe era uma figura muito querida na cidade. Era também respeitado. Ninguém zombava dele abertamente, como acontecia com os loucos em geral. As pessoas o abordavam na rua e paravam para ouvi-lo atentamente, embora fazendo de tudo para conter o riso, que era inevitável, por causa das coisas mirabolantes que ele falava. Para se ter uma ideia do quanto o Príncipe Ribamar era querido, basta dizer que ele foi alvo de reportagens em jornais de Fortaleza e chegou a ser homenageado em verso por vários poetas juazeirenses. A morte do Príncipe Ribamar causou grande consternação na cidade. Saiu até na imprensa como notícia de destaque. 
(A foto que ilustra esta matéria foi cedida pelo jornalista cratense Huberto Cabral)
O AUTOR
José (Zeca) Maques da Silva, juazeirense, ourives, memorialista da história de Juazeiro do Norte, autor de vários livros.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Viva o Príncipe

Há muito tempo estávamos a procura dessa foto do nosso saudoso Príncipe Ribamar da Beira Fresca em seu traje de realeza. Já havíamos publicado outras fotos dele no Juaonline, mas nenhuma desse jeito e colorida. Quem nos presenteou com esta relíquia histórica foi Marconi Edison Pereira Carneiro hoje radicado em Salvador, casado com a juazeirense Célia Pita, filha de seu Ivo Pita, um dos mais conhecidos ourives de nossa cidade, já falecido. A foto que ele nos mandou foi digitalizada a partir de um slide já bastante castigado pelo tempo, mas conseguimos dá uma melhorada. As gerações atuais não conheceram o Príncipe Ribamar, mas quem viveu na época dele, principalmente nos anos 60 e 70 dele deve guardar boas recordações. Em épocas de festas cívicas, como o desfile de 7 de Setembro, ele era figura de destaque com sua roupa de gala no palanque das autoridades. Em seus delírios de grandeza apresentava-se e se comportava como se fosse um príncipe de verdade e, como tal, era tratado e respeitado pela população juazeirense que nunca o maltratou moralmente. Todo mundo gostava do Príncipe. Ele era uma figura folclórica e ao mesmo tempo histórica, foi homenageado com música pelo compositor e cantor juazeirense Luis Fidélis e tem em nossa cidade uma rua com o seu nome, no Bairro Carité.
Viva o Príncipe!
Fonte: www.portaldejuazeiro

Príncipe Ribamar, o sonhador de Juazeiro

Juazeiro do Norte possui na sua história figuras populares que ficaram conhecidas por sua arte, por atuações religiosas e algumas por serem consideradas "loucas". Quem viveu na cidade até umas duas décadas atrás relata várias histórias de pessoas que precisavam de algum acompanhamento psiquiátrico e, desamparadas, circulavam pelas ruas, recebendo apelidos, sendo alvo de chacotas e outras invencionices em prol da "brincadeira".

Um dos personagens que entrou para a história de Juazeiro sob este prisma foi o Joaquim Gomes Menezes, que ficou conhecido na cidade pela alcunha de Príncipe Ribamar da Beira Fresca. Em texto , o escritor Daniel Walker afirma que o Príncipe Ribamar "era apenas um sonhador, um visionário, uma figura popular da cidade de Juazeiro do Norte e pessoa muito querida por todos que o conheceram". Por sua vez, o professor, historiador e sociólogo Titus Riedl classifica-o como "o personagem mais rico da história de Juazeiro".

Em vários relatos sobre o Príncipe Ribamar temos o depoimento de que se tratava de um exímio carpinteiro, que abandonou a profissão para perambular pelas ruas de Juazeiro e mostrar as condecorações recebidas, simbolizadas em medalhas penduradas na sua incrementada vestimenta. O Príncipe Ribamar faleceu em 1978 e hoje nomeia uma rua no bairro Carité, em Juazeiro.
Fonte: oberronet.blogspot.com.br